segunda-feira, 24 de maio de 2010

Meu Pai

Esse foi o texto que escrevi e distribuímos na missa de sétimo dia do meu pai.


MEU PAI

Quando meu avô Luiz morreu, escrevi um texto comovido colocando para fora todo o meu sentimento. Meu Pai o compartilhou com seus amigos, nossa família e com diversas pessoas que não conheci, não sei quem são, jamais saberei.

Hoje, após o funeral do meu próprio Pai fiquei sem palavras, sem rumo , sem norte. Não há como escrever, não há como falar. Há que se lembrar. Há que se ouvir histórias das pessoas que se aproximaram. Há que se ouvir lembranças dos que lembraram. E não foram poucos.

Sempre tive medo desse dia. Sempre temi que meu telefone tocasse para que alguém me dissesse que meu Pai havia morrido. Mas esse dia chegou: morreu meu Pai.

Eu e meu irmão não o chamávamos de papai. Sempre foi “meu” Pai, com o pronome possessivo na frente porque sempre dividimos o nosso Pai com outras pessoas. Ele foi nosso Pai amado, e foi Pai dos próprios pais, foi Pai dos irmãos, foi Pai dos amigos e Pai de tantos mais que passaram pelo seu caminho.

Foram tantas as pessoas que se apresentaram em seu funeral para nos dizer que meu Pai também era seu Pai que ao final do dia, eu e meu irmão (só meu) comentamos: - Quantos irmãos! Quantas pessoas sofrendo a mesma falta paterna que nos dói tanto.

Inúmeras pessoas me disseram: - força!

Entendo como um carinho de quem vê um filho chorando a morte do próprio Pai, junto ao seu caixão. Mas sou forte e meu irmão ainda mais forte. Estamos juntos, todos juntos, do jeito que ele sempre fez acontecer. Minha família sempre se reuniu ao seu redor, mesmo nas tantas vezes em que ele conseguiu fazer isso parecendo que a razão fosse outra.

Sou forte. Sou filho de um homem forte que poderia ter ido além, que poderia ter feito mais, que poderia ter se destacado ainda mais se não tivesse escolhido seus amigos e sua família como a prioridade absoluta da sua vida. Se meu Pai fosse mais egoísta talvez fosse um político, mas ele sempre preferiu gastar sua política para aproximar as pessoas, os filhos, os amigos, os irmãos e principalmente seus pais.

Sou forte. Tenho uma filha e duas sobrinhas que choram forte a perda de seu avô querido, com a certeza de que ele foi o melhor avô que poderiam ter tido. Cheias de lembranças que levarão para sempre.

Sou forte. Tenho um irmão querido, capaz de cuidar do meu choro antes de pensar no próprio choro. Capaz de cuidar do próprio Pai como se fora seu filho.

Sou forte. Tenho uma mãe amada. Minha mãe. Que está sempre ao meu lado, sem me julgar, sem me culpar, sem censurar.

Sou forte. Tenho tios como quem tem irmãos, filhos do mesmo Pai. O mesmo Carlos de Figueiredo Forbes que nos cuidou a todos. Que nos amou a todos e que nunca pediu nada em troca a não ser amor. Diferente de mim, meu Pai não declarava seu amor as pessoas. Mas posso dizer, com toda a segurança que ele me ensinou a ter, que ele amou muito todos os seus amigos, todos os seus sobrinhos, suas mulheres, seu netos, seus filhos, seus pais e principalmente seus irmãos.

Sou forte. Porque meu Pai acreditava em Deus, me ensinou a hierarquia dos anjos. Me falou dos santos de sua devoção. Me levou tantas vezes à igreja para rezarmos juntos. Rezou por mim tantas vezes nas suas preces.

Sou forte. Levantei infinitas vezes em defesa do meu Pai contra quem fosse. Levantarei sempre.

Sou forte. Vejo amigos, parentes, irmão e irmãos reunidos para um último adeus.

Sou forte. Porque sou Forbes. Porque tenho nas minhas veias o sangue do homem que mais amei em toda a minha vida. Meu Pai, Carlos de Figueiredo Forbes.

Sou forte. Acredito que meu Pai está ao lado de Deus Pai. E porque ficou mais fácil acreditar na oração que Jesus ensinou e que quero convidá-los a rezar comigo:

Pai nosso, que estás no céu. Santificado seja o vosso nome. Venha a nós o vosso reino. Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Perdoai-nos as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos tem ofendido. Não nos deixei cair em tentação, mas livrai-nos de todo mal. Amém.

O que fazer com esse blog?

Decidi que vou continuar usando esse blog para escrever algumas histórias do meu pai. Algumas que as pessoas me contam, outras que ele contava, outras que vivemos juntos. Enfim: se você tem alguma história by CFF mande pra mim, ok!?