Rio de Janeiro.
Dois dias antes do Carnaval, sou premiado. Chega um advogado alemão, recomendadíssimo, o Dr. M, com quem tenho um trabalho daí a dez dias.
Falo francamente: “Olhe, eu não esperava V. agora, vou viajar e, ademais, ninguém faz nada nesta cidade nestes dias. O melhor é que V. tire umas férias. Vou arranjar entrada para os bailes, para o desfile e, na minha volta, V. vai estar novo em folha.”
Naquele tempo ainda havia baile no Municipal. Consigo a entrada e a dou ao M com todas as instruções devidas.
M é um alemão branquelo, ruivo e com um belo e incomum cavanhaque. Acha-se um grande atleta, campeão europeu de karatê e de hipismo ( salta com um cavalo baio castrado, que atende por ‘Casanova’, salvo seja). Apesar desses atributos, fisicamente é de dar pena.
Volto da viagem, acabou o Carnaval. M está outro: queimado, esportivo, à vontade.
Pergunto: “E o Carnaval ? ”
“Carlos, adorei ! Foi tudo fantástico ! ”
“E do que V. mais gostou, dos bailes, do desfile ? ”
“Sem dúvida do baile do Municipal ! Imagine que eu cheguei lá, meio tímido, sem conhecer ninguém no meio daquela multidão, e então resolvi ficar encostado numa coluna, vendo o movimento. Logo veio uma linda moça, vestida de fada, e me deu uma pancadinha com a vara de condão; depois uma de bruxa, levei uma vassouradinha; um rapaz de diabo, espetou-me com um tridente ! Tudo muito divertido ! O gran finale veio logo a seguir: chegou um preto enorme, vestido de gorila. Dançamos a noite inteira ! Foi mesmo maravilhoso !”