quinta-feira, 5 de maio de 2011

Retratos da Vida 8

Santos.
 
Tempos áureos. O café fazia as pessoas ricas, sofisticadas, inteligentes e com tempo disponível para brincadeiras.

Ainda não era moda ser gay. Os poucos que ousavam exibir a condição, se pobres, eram execrados; se ricos, olhados como exóticos.

MG, o M...sinho, era rico e gay. Baixo, gordote, sempre exalando o perfume da moda, só vestia ternos de albene, brancos, com camisas de palha de seda e gravatas finíssimas.

Corretor de café, o que os comissários-exportadores diziam fazia lei para ele.

“M...sinho, quer participar de uma orgia daquelas ?” pergunta-lhe meu tio, Francis, o amo e senhor preferido.

“Claro, o que é que eu tenho que fazer ? “

“Muito simples, estou dando uma festa em casa, sábado, coisa muito discreta e fina, só com a nossa gente, que é para ninguém se constranger, e umas “girls” argentinas, dispostas a tudo. Quando for meia-noite, apago as luzes, dou um sinal e, pronto ! Todo mundo fica nu, e seja o que Deus quiser !”

“Francis, só você para ter uma idéia dessas. Vai ser maravilhoso !” exulta o gamo.

“Mas é segredo, veja lá se não vai espalhar para toda a Rua XV !”

Bastou pedir sigilo para M...sinho ir de porta em porta, excitadíssimo, anunciar que finalmente fora convidado para uma das festas do Francis Forbes. O máximo na escala social.
 
Preparou-se como nunca. Chegou a por perfume até na brilhantina, sem contar com outros lugares, menos votados.

Começa a festa. Tudo como fora prometido. Os amigos, mulheres lindas, alguns homens interessantes, a melhor comida e a melhor bebida.

Muita bebida. M...sinho alcança as portas do paraíso. Está em seu grande momento. Nem Oscar Wlde, aliás largamente citado por ele, teria feito maior sucesso naquela noite.

Passa o tempo. Quase meia-noite.

M...sinho sua abundantemente, muito cheiroso, é verdade. Aos poucos vai-se aproximando do centro da grande sala, onde há uns sofás prontos para a ação e umas cômodas e mesas que parecem feitas para que lá se deixem as roupas.

Meia-noite. Francis afasta os garçons, que afinal de contas o espetáculo era selecionado. Apaga as luzes.

“Todo mundo nu !”  grita. “Três minutos. É tempo de sobra !”

M...sinho, treinado, fica nu em trinta segundos. Espera, sobranceiro, que os outros acabem. Quantas revelações ! Quantas surpresas !

Acaba o tempo. As luzes se acendem. M...sinho tem uma surpresa apenas,  mas daquelas inesquecíveis. Só ele estava nu. Os outros, avisados, formavam um círculo de admiradores em volta dele.

Contra a má-fortuna, coração aberto ! M...sinho não falha.

“Sirvam-se !” declara, heróico e conformado.

E não é que alguns se serviram ...

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